CLÁSSICOS DE NAPOLEON HILL

quinta-feira, 31 de março de 2011

Indústria Cultural e manutenção do Poder

Filosofia

O Mito de Narciso - A fonte da vaidade

MITO DE NARCISO: A FONTE DA VAIDADE

Narciso era filho do deus-rio Cephisus e da ninfa Liriope, e era um jovem de extrema beleza. Porém, à despeito da cobiça que despertava nas ninfas e donzelas, Narciso preferia viver só, pois não havia encontrado ninguém que julgasse merecedora do seu amor. E foi justamente este desprezo que devotava às jovens a sua perdição.
Pois havia uma bela ninfa, Eco, amante dos bosques e dos montes, companheira favorita de Diana em suas caçadas. Mas Eco tinha um grande defeito: falava demais, e tinha o costume de dar sempre a última palavra em qualquer conversa da qual participava.
Um dia Hera, desconfiada - com razão - que seu marido estava divertindo-se com as ninfas, saiu em sua procura. Eco usou sua conversa para entreter a deusa enquanto suas amigas ninfas se escondiam. Hera, percebendo a artimanha da ninfa, condenou-a a não mais poder falar uma só palavra por sua iniciativa, a não ser responder quando interpelada.
Assim a ninfa passeava por um bosque quando viu Narciso que perseguia a caça pela montanha. Como era belo o jovem, e como era forte a paixão que a assaltou! Seguiu-lhe os passos e quis dirigir-lhe a palavra, falar o quanto ela o queria... Mas não era possível - era preciso esperar que ele falasse primeiro para então responder-lhe. Distraída pelos seus pensamentos, não percebeu que o jovem dela se aproximara. Tentou se esconder rapidamente, mas Narciso ouviu o barulho e caminhou em sua direção:

- Há alguém aqui?
- Aqui! - respondeu Eco.
Narciso olhou em volta e não viu ninguém. Queria saber quem estava se escondendo dele, e quem era a dona daquela voz tão bonita.
- Vem - gritou.
- Vem! - respondeu Eco.
- Por que foges de mim?
- Por que foges de mim?
- Eu não fujo! Vem, vamos nos juntar!
- Juntar! - a donzela não podia conter sua felicidade ao correr em direção do amado que fizera tal convite.
Narciso, vendo a ninfa que corria em sua direção, gritou:
- Afasta-te! Prefiro morrer do que te deixar me possuir!
- Me possuir... - disse Eco.
Foi terrível o que se passou. Narciso fugiu, e a ninfa, envergonhada, correu para se esconder no recesso dos bosques. Daquele dia em diante, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. Evitava o contato com os outros seres, e não se alimentava mais. Com o pesar, seu corpo foi definhando, até que suas carnes desapareceram completamente. Seus ossos se transformaram em rocha. Nada restou além da sua voz. Eco, porém, continua a responder a todos que a chamem, e conserva seu costume de dizer sempre a última palavra.
Não foi em vão o sofrimento da ninfa, pois do alto, do Olimpo, Nêmesis vira tudo o que se passou. Como punição, condenou Narciso a um triste fim, que não demorou muito a ocorrer.

Havia, não muito longe dali, uma fonte clara, de águas como prata. Os pastores não levavam para lá seu rebanho, nem cabras ou qualquer outro animal a freqüentava. Não era tampouco enfeada por folhas ou por galhos caídos de árvores. Era linda, cercada de uma relva viçosa, e abrigada do sol por rochedos que a cercavam. Ali chegou um dia Narciso, fatigado da caça, e sentindo muito calor e muita sede.
Narciso debruçou sobre a fonte para banhar-se e viu, surpreso, uma bela figura que o olhava de dentro da fonte. "Com certeza é algum espírito das águas que habita esta fonte. E como é belo!", disse, admirando os olhos brilhantes, os cabelos anelados como os de Apolo, o rosto oval e o pescoço de marfim do ser. Apaixonou-se pelo aspecto saudável e pela beleza daquele ser que, de dentro da fonte, retribuía o seu olhar.
Não podia mais se conter. Baixou o rosto para beijar o ser, e enfiou os braços na fonte para abraça-lo. Porém, ao contato de seus braços com a água da fonte, o ser sumiu para voltar depois de alguns instantes, tão belo quanto antes.
Porque me desprezas, bela criatura? E por que foges ao meu contato? Meu rosto não deve causar-te repulsa, pois as ninfas me amam, e tu mesmo não me olhas com indiferença. Quando sorrio, também tu sorris, e responde com acenos aos meus acenos. Mas quando estendo os braços, fazes o mesmo para então sumires ao meu contato.
Suas lágrimas caíram na água, turvando a imagem. E, ao vê-la partir, Narciso exclamou:
- Fica, peço-te, fica! Se não posso tocar-te, deixe-me pelo menos admirar-te.
Assim Narciso ficou por dias a admirar sua própria imagem na fonte, esquecido de alimento e de água, seu corpo definhando. As cores e o vigor deixaram seu corpo, e quando ele gritava "Ai, ai", Eco respondia com as mesmas palavras. Assim o jovem morreu.
As ninfas choraram seu triste destino. Prepararam uma pira funerária e teriam cremado seu corpo se o tivessem encontrado. No lugar onde faleceu, entretanto, as ninfas encontraram apenas uma flor roxa, rodeada de folhas brancas. E, em memória do jovem Narciso, aquela flor passou a ser conhecida pelo seu nome.
Dizem ainda, que quando a sombra de Narciso atravessou o rio Estige, em direção ao Hades, ela debruçou-se sobre suas águas para contemplar sua figura.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Senso Moral, Consciência Moral, Juízo de Fato e Juízo de Valor- Por Marilena Chauí



Senso Moral, Consciência Moral, Juízo de Fato e Juízo de Valor


MARILENA CHAUÍ
SENSO MORAL

     Muitas vezes, tomamos conhecimento de movimentos nacionais e internacionais de luta contra a fome. Ficamos sabendo que, em outros países e no nosso, milhares de pessoas, sobretudo crianças e velhos, morrem de penúria e inanição. Sentimos piedade. Sentimos indignação diante de tamanha injustiça (especialmente quando vemos o desperdício dos que não têm fome e vivem na abundância). Sentimos responsabilidade. Movidos pela solidariedade, participamos de campanhas contra a fome. Nossos sentimentos e nossas ações exprimem nosso senso moral.
     Quantas vezes, levados por algum impulso incontrolável ou por alguma emoção forte (medo, orgulho, ambição, vaidade, covardia), fazemos alguma coisa de que, depois, sentimos vergonha, remorso, culpa. Gostaríamos de voltar atrás no tempo e agir de modo diferente. Esses sentimentos também exprimem nosso senso moral.
     Em muitas ocasiões, ficamos contentes e emocionados diante de uma pessoa cujas palavras e ações manifestam honestidade, honradez, espírito de justiça, altruísmo, mesmo quando tudo isso lhe custa sacrifícios. Sentimos que há grandeza e dignidade nessa pessoa. Temos admiração por ela e desejamos imitá-la. Tais sentimentos e admiração também exprimem nosso senso moral.
Não raras vezes somos tomados pelo horror diante da violência: chacinas de seres humanos e animais, linchamentos, assassinatos brutais, estupros, genocídio, torturas e suplícios. Com freqüência, ficamos indignados ao saber que um inocente foi injustamente acusado e condenado, enquanto o verdadeiro culpado permanece impune. Sentimos cólera diante do cinismo dos mentirosos, dos que usam outras pessoas como instrumento para seus interesses e para conseguir vantagens às custas da boa-fé de outros. Todos esses sentimentos manifestam nosso senso moral.
     Vivemos certas situações, ou sabemos que foram vividas por outros, como situações de extrema aflição e angústia. Assim, por exemplo, uma pessoa querida, com uma doença terminal, está viva apenas porque seu corpo está ligado a máquinas que a conservam. Suas dores são intoleráveis. Inconsciente, geme no sofrimento. Não seria melhor que descansasse em paz? Não seria preferível deixá-la morrer? Podemos desligar os aparelhos? Ou não temos o direito de fazê-lo? Que fazer? Qual a ação correta?
     Um pai de família desempregado, com vários filhos pequenos e a esposa doente, recebe uma oferta de emprego, mas que exige que seja desonesto e cometa irregularidades que beneficiem seu patrão. Sabe que o trabalho lhe permitirá sustentar os filhos e pagar o tratamento da esposa. Pode aceitar o emprego, mesmo sabendo o que será exigido dele? Ou deve recusá-lo e ver os filhos com fome e a mulher morrendo?
     Um rapaz namora, há tempos, uma moça de quem gosta muito e é por ela correspondido. Conhece uma outra. Apaixona-se perdidamente e é correspondido. Ama duas mulheres e ambas o amam. Pode ter dois amores simultâneos, ou estará traindo a ambos e a si mesmo? Deve magoar uma delas e a si mesmo, rompendo com uma para ficar com a outra? O amor exige uma única pessoa amada ou pode ser múltiplo? Que sentirão as duas mulheres, se ele lhes contar o que se passa? Ou deverá mentir para ambas? Que fazer? Se, enquanto está atormentado pela decisão, um conhecido o vê ora com uma das mulheres, ora com a outra e, conhecendo uma delas, deve contar a ela o que viu? Em nome da amizade, deve falar ou calar?
     Uma mulher vê um roubo. Vê uma criança maltrapilha e esfomeada roubar frutas e pães numa mercearia. Sabe que o dono da mercearia está passando por muitas dificuldades e que o roubo fará diferença para ele. Mas também vê a miséria e a fome da criança. Deve denunciá-la, julgando que com isso a criança não se tornará um adulto ladrão e o proprietário da mercearia não terá prejuízo? Ou deverá silenciar, pois a criança corre o risco de receber punição excessiva, ser levada para a polícia, ser jogada novamente às ruas e, agora, revoltada, passar do furto ao homicídio? Que fazer?



CONSCIÊNCIA MORAL

     Situações como essas – mais dramáticas ou menos dramáticas – surgem sempre em nossas vidas. Nossas dúvidas quanto à decisão a tomar não manifestam apenas nosso senso moral, mas também põem à prova nossa consciência moral, pois exigem que decidamos o que fazer, que justifiquemos para nós mesmos e para os outros as razões de nossas decisões e que assumamos todas as conseqüências delas, porque somos responsáveis por nossas opções.
Todos os exemplos mencionados indicam que o senso moral e a consciência moral referem-se a valores (justiça, honradez, espírito de sacrifício, integridade, generosidade), a sentimentos provocados pelos valores (admiração, vergonha, culpa, remorso, contentamento, cólera, amor, dúvida, medo) e a decisões que conduzem a ações com conseqüências para nós e para os outros.               Embora os conteúdos dos valores variem, podemos notar que estão referidos a um valor mais profundo, mesmo que apenas subentendido: o bom ou o bem. Os sentimentos e as ações, nascidos de uma opção entre o bom e o mau ou entre o bem e o mal, também estão referidos a algo mais profundo e subentendido: nosso desejo de afastar a dor e o sofrimento e de alcançar a felicidade, seja por ficarmos contentes conosco mesmos, seja por recebermos a aprovação dos outros.
O senso e a consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos, intenções, decisões e ações referidos ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade. Dizem respeito às relações que mantemos com os outros e, portanto, nascem e existem como parte de nossa vida intersubjetiva.

JUÍZO DE FATO E DE VALOR

    Se dissermos: “Está chovendo”, estaremos enunciando um acontecimento constatado por nós e o juízo proferido é um juízo de fato. Se, porém, falarmos: “A chuva é boa para as plantas” ou “A chuva é bela”, estaremos interpretando e avaliando o acontecimento. Nesse caso, proferimos um juízo de valor.
     Juízos de fato são aqueles que dizem o que as coisas são, como são e por que são. Em nossa vida cotidiana, mas também na metafísica e nas ciências, os juízos de fato estão presentes. Diferentemente deles, os juízos de valor - avaliações sobre coisas, pessoas e situações - são proferidos na moral, nas artes, na política, na religião.
     Juízos de valor avaliam coisas, pessoas, ações, experiências, acontecimentos, sentimentos, estados de espírito, intenções e decisões como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis.
Os juízos éticos de valor são também normativos, isto é, enunciam normas que determinam o dever ser de nossos sentimentos, nossos atos, nossos comportamentos. São juízos que enunciam obrigações e avaliam intenções e ações segundo o critério do correto e do incorreto.
Os juízos éticos de valor nos dizem o que são o bem, o mal, a felicidade. Os juízos éticos normativos nos dizem que sentimentos, intenções, atos e comportamentos devemos ter ou fazer para alcançarmos o bem e a felicidade. Enunciam também que atos, sentimentos, intenções e comportamentos são condenáveis ou incorretos do ponto de vista moral.

    Como se pode observar, senso moral e consciência moral são inseparáveis da vida cultural, uma vez que esta define para seus membros os valores positivos e negativos que devem respeitar ou detestar.
Qual a origem da diferença entre os dois tipos de juízos? A diferença entre a Natureza e a Cultura. A primeira, como vimos, é constituída por estruturas e processos necessários, que existem em si e por si mesmos, independentemente de nós: a chuva é um fenômeno meteorológico cujas causas e cujos efeitos necessários podemos constatar e explicar.

     Por sua vez, a Cultura nasce da maneira como os seres humanos interpretam a si mesmos e suas relações com a Natureza, acrescentando-lhe sentidos novos, intervindo nela, alterando-a através do trabalho e da técnica, dando-lhe valores. Dizer que a chuva é boa para as plantas pressupõe a relação cultural dos humanos com a Natureza, através da agricultura. Considerar a chuva bela pressupõe uma relação valorativa dos humanos com a Natureza, percebida como objeto de contemplação.
Freqüentemente, não notamos a origem cultural dos valores éticos, do senso moral e da consciência moral, porque somos educados (cultivados) para eles e neles, como se fossem naturais ou fáticos, existentes em si e por si mesmos. Para garantir a manutenção dos padrões morais através do tempo e sua continuidade de geração a geração, as sociedades tendem a naturalizá-los. A naturalização da existência moral esconde, portanto, o mais importante da ética: o fato de ela ser criação histórico-cultural.

CHAUI,Marilena.Convite a Filosofia.ed.Atica,São Paulo,2005.pgs 305-307

CARTA-MANIFESTO EM DEFESA DO ENSINO DE FILOSOFIA DO

CARTA-MANIFESTO EM DEFESA DO ENSINO DE FILOSOFIA DO
COLETIVO DE PROFESSORES DE FILOSOFIA DO ESTADO DO PARANÁ
Curitiba, 10 de dezembro de 2010.
O conjunto de participantes do encontro O Ensino de Filosofia em Foco: Diálogos em
Construção: V Coletivo de Professores de Filosofia do Paraná e XIV Encontro do Núcleo de
Estudos Sobre o Ensino da Filosofia / Educação Filosófica - NESEF, composto por
professores e pesquisadores de Filosofia no Ensino Médio e nas Universidades do Paraná,
lideranças sindicais afeitas à educação e educadores Paranaenses, tendo em vista:
(I) as conquistas educacionais, tanto em termos das Diretrizes Curriculares Estaduais para
a Educação Básica, das Orientações Curriculares Nacionais de Filosofia, da Edição e
distribuição do Livro Didático Público de Filosofia e da Antologia de Textos Filosóficos,
da inclusão da Filosofia no Programa Nacional do Livro Didático do Ensino Médio,
quanto em termos da conquista de um espaço curricular próprio nas três séries do Ensino
Médio, garantido com a aprovação da Lei nº 11.684/2008;
(II) a busca do processo pedagógico emancipatório na Educação Básica, com o qual a
disciplina de Filosofia tem contribuído;
(III) as possibilidades e desafios quanto à organização e implementação das políticas
educacionais nas gestões de Estado que se iniciam no ano de 2011, nos âmbitos Federal e
Estadual;
(IV) as disposições da Declaração de Paris para a Filosofia, ratificadas por diversas
entidades nacionais e internacionais, vem a público para:
1) Reafirmar os imperativos educacionais da gratuidade, qualidade, laicidade, gestão
democrática e atendimento universal, mantendo-os e aprofundando-os, onde estes
princípios já são praticados, e concretizando-os, nas situações onde estes fundamentos
ainda não são realidade;
2) Reafirmar o caráter realmente público da educação pública e o caráter precipuamente
social da educação privada;
3) Defender o caráter formativo e cultural da Filosofia e a importância da sua presença no
currículo escolar, garantindo-se, assim, aos estudantes o direito ao conhecimento que a
disciplina proporciona;
4) Defender políticas públicas educacionais em âmbito Estadual e Federal que garantam
condições as adequadas ao trabalho pedagógico, considerando aspectos didáticos,
sociais, culturais e de infraestrutura que interferem na prática laboral dos, professores e
demais profissionais da educação, sobretudo aos que atuam na Educação Básica
Pública, que tem no Estado sua instância mantenedora e na sociedade, sua beneficiária
e, também, instância de controle;
5) Defender o desenvolvimento de uma política nacional para o ensino de Filosofia, a
fim de que sejam garantidas: (1) a formação inicial específica e a formação continuada
permanente de professores de Filosofia para a Educação Básica, garantindo-se, assim,
condições adequadas de ingresso e de aperfeiçoamento profissional a estes docentes; (2)
existência, nas unidades escolares, de materiais didáticos de qualidade e a
disponibilidade de textos clássicos, ferramentas fundamentais para o ensino da
disciplina;
6) Defender a manutenção, nas escolas e Sistemas de Ensino que já garantiram esta
conquista e o estabelecimento, nas escolas e Sistemas onde esta norma ainda não
vigora, que a disciplina de Filosofia conste nas matrizes curriculares do Ensino Médio
com, no mínimo, duas aulas semanais, como condição necessária para o trabalho
pedagógico;
7) Reivindicar a oferta de formação continuada dos professores e demais profissionais da
educação, realizada por instituições públicas, garantindo-se, aos professores dos
quadros próprios das redes públicas que os cursarem, o afastamento temporário
remunerado, sem a necessidade de que estes necessitem exonerar-se ou licenciar-se;
8) Manifestar a preocupação com o retorno do, já outrora recorrente, argumento da
interdisciplinaridade e do tratamento transversal da Filosofia, presente na defesa da
organização curricular do Ensino Médio por áreas de conhecimento (Ciências Humanas
e suas Tecnologias), pois observa-se, nesse recrudescimento, nova tentativa
conservadora de minar a crescente presença da disciplina de Filosofia, com estatuto
científico reconhecido e carga horária específica; no currículo escolar;
9) Defender a ampliação e o estreitamento do diálogo entre o Poder Público, instância de
proposição da política curricular para todas as disciplinas, as unidades escolares,
instâncias públicas ligados às Universidades, que se ocupam do estudo e da pesquisa em
educação e da formação professores o que, na prática, significa estabelecer e/ou reforçar
laços necessários entre a Educação Básica e Educação Superior, relação esta,
fundamental para a conquista da qualidade de ensino almejada pela população;
10) Defender que, enquanto matéria de ensino, os conteúdos filosóficos ao manterem-se
em espaço curricular e circunscrição específica, contribuem, justamente por sua
especificidade, com o estabelecimento de relações interdisciplinares, ou seja, só a
Filosofia, enquanto rigorosamente Filosofia, pode estabelecer relações propriamente
interdisciplinares com as demais disciplinas;
11) Restabelecimento da discussão da Identidade do Ensino Médio como etapa final da
Educação Básica e apoio às políticas de ampliação da jornada escolar;
12) Manifestar preocupação com a forma pela qual são realizados os concursos públicos de
provas e títulos para a seleção dos professores de Filosofia para ministrar aulas nas
escolas públicas estaduais do Paraná e do Brasil. Pesquisas realizadas pelo Núcleo de
Estudos Sobre o Ensino da Filosofia / Educação Filosófica - NESEF, no Estado do
Paraná, sobre o editais dos concursos de 1991, 2004 e 2007 apontam a grande
fragilidade das provas e a completa ausência de instrumentos que avaliem a
competência didática dos futuros professores de Filosofia, reforçando e mantendo a
separação e fragmentação entre conhecimentos específicos e conhecimentos didáticos,
originados no processo de formação inicial dos professores;
13) Ampliação do tempo escolar do Ensino Médio para 04 anos, considerando a realidade
brasileira, na qual, apesar dos esforços governamentais, ainda observa-se o acesso
restrito das maiorias à Educação Superior, o que torna indispensável que a etapa final
da Educação Básica congregue as dimensões de preparação para a vida e de preparação
para o trabalho;
14) Propor, a partir de recursos orçamentários específicos, a instalação de cineclubes nas
escolas e universidades paranaenses, na medida em que a arte e a cultura
cinematográfica podem e devem contribuir com a formação dos estudantes dos
cidadãos;
15) Defender a manutenção do currículo disciplinar pela Secretaria de Estado da Educação
do Paraná e a implementação de políticas e planos educacionais que venham, em curto
e médio prazos, garantir que a disciplina de Filosofia seja ministrada, em todos os
níveis da educação formal neste Estado, por docentes graduados e especializados em
Filosofia, conforme a Deliberação 03/2010 do Conselho Estadual de Educação do
Paraná.
16) Defender o respeito e a garantia, por parte da gestão do governo do Paraná 2011-2014,
aos compromissos assumidos em campanha eleitoral, junto ao coletivo de professores
da escola pública, em relação à manutenção e ao aprofundamento dos programas de
formação continuada, entre eles o Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, à
política de carreiras e, sobretudo, à contratação de profissionais mediante concurso
público, reduzindo-se paulatinamente todas as formas de precarização do trabalho
educativo;
17) Alertar para a necessidade da aceitação, por parte da Secretaria de Estado da Educação
do Paraná, das titulações obtidas por professores de seu quadro próprio em cursos do
Mestrado e Doutorado validados e reconhecidos pelos órgãos normativos competentes,
como requisito suficiente para avanço ao terceiro nível da carreira do Magistério,
conforme Plano de Cargos e Salários;
18) Defender que a Secretaria de Estado da Educação do Paraná convoque imediatamente
os professores aprovados no concurso de 2007, bem como, realizem-se novos concursos
públicos para todas as áreas de formação, especialmente para a disciplina de Filosofia,
com abertura de vagas suficientes para suprir a demanda de professores em todas as
escolas públicas que ofertam o Ensino Médio;
19) Alertar para a necessidade da superação de contratações precárias sob a ótica da
preparação acadêmica, avalizadas por resoluções secretariais, às quais permitem que
professores do Quadro Próprio do Magistério e temporários da Rede Pública Estadual
do Paraná, licenciados e/ou habilitados em outras áreas de formação, ministrem aulas de
Filosofia, inclusive nos cursos de Formação de Docentes, bastando que em seus
respectivos históricos acadêmicos conste a carga horária de 120 horas da disciplina;
20) Repudiar, nos estabelecimentos que optaram pela organização do Ensino Médio por
Blocos e nos cursos de Educação de Jovens e Adultos da Rede Estadual de Educação do
Paraná, a diminuição da carga horária da disciplina de Filosofia, em relação às demais
disciplinas, no Ensino Médio, uma vez que não há argumento plausível que possa
sustentar a prevalência de uma disciplina sobre outra;
21) Defender e apoiar a presença de professores de Filosofia na equipe técnico- pedagógica
da Secretaria de Estado da Educação do Paraná e de suas unidades descentralizadas, os
Núcleos Regionais de Educação, a fim de assessorar os gestores da política pública
educacional nas questões pertinentes ao ensino de Filosofia;
22) Defender, no âmbito da normatização das carreiras dos professores do Quadro Próprio
do Magistério da Rede Estadual de Educação do Paraná, a possibilidade da transposição
funcional dos professores graduados e licenciados em Filosofia detentores de padrões
em História, atualmente impedidos de assumir aulas de Filosofia, mesmo desejando
fazê-lo;
23) Reafirmar a necessidade de que os cursos de licenciatura em Filosofia revejam seus
currículos e sua concepção de formação de professores, a fim de atender às demandas
do ensino de Filosofia na Educação Básica do Sistema de Ensino do Estado do Paraná;
24) Propor a realização anual, a partir de 2011, das Olimpíadas de Filosofia pelas escolas
da Rede Estadual de Educação do Paraná, objetivando a mobilização dos coletivos
escolares em relação ao estudo da Filosofia, bem como a divulgação de estudos,
trabalhos e experiências pedagógicas;
25) Apoiar a realização de eventos de pesquisa sobre o Ensino de Filosofia, envolvendo
professores das instituições formadoras de professores de Filosofia, alunos de
graduação e professores da Educação Básica;
26) Apoiar as pautas reivindicatórias dos professores Sociologia, e seus respectivos
coletivos, relativas à disciplina de Sociologia na Educação Básica;
27) Apoiar a criação do Laboratório de Prática de Ensino de Filosofia (LAPEFILOS),
vinculado ao Núcleo de Estudos Sobre o Ensino da Filosofia / Educação Filosófica –
NESEF, como mais um espaço para a produção e divulgação de pesquisas sobre a
prática de ensino de Filosofia e produção de materiais didáticos;
28) Registrar o compromisso público assumido pelo futuro Secretário Estadual da
Educação do Paraná, gestão 2011-2014, Professor Flávio Arns, em carta enviada à
coordenação do Núcleo de Estudos Sobre o Ensino da Filosofia / Educação Filosófica
NESEF, em 08/12/2010 por meio do ofício circular Nº0697/10 em que afirma:
“Destaco a importância do Núcleo que tem por finalidade debater questões
relacionadas ao ensino de filosofia, particularmente na educação básica, bem como
desenvolver iniciativas no sentido de consolidar a sua presença (...) nos currículos.
Lembro que colocar filosofia no Ensino Fundamental e Médio trará benefícios para
educação como todo. A filosofia e a arte são propulsoras de novos olhares, de
infinitas possibilidades de criação, de investigação, de oportunidades de projetar
outro futuro. Permaneço à disposição para os entrosamentos que se fizerem
necessários desejando que o Encontro seja marcado por ações que coloquem a
filosofia no lugar que merece”.
29) Reiterar a necessidade da continuidade de atuação do coletivo de professores de
Filosofia, buscando agregar outras instituições como: graduações em Filosofia no
Estado do Paraná, centros acadêmicos, grupos de pesquisas e outros afins que objetivem
a atuação política e profissional em defesa do lugar da Filosofia na Educação Básica e
no desenvolvimento de pesquisas afeitas ao ensino desta disciplina;
Curitiba, 10 de dezembro de 2010.

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