CLÁSSICOS DE NAPOLEON HILL

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O que é ideologia - Marilena Chauí


PARTINDO DE ALGUNS EXEMPLOS    

Sistematizando o pensamento filosófico grego, Aristóteles elaborou algo que, a partir da filosofia medieval, ficou sendo conhecido como a teoria das quatro causas.  Como se sabe, uma das maiores preocupações dos filósofos gregos era a explicação do movimento. Por movimento, os gregos entendiam: 1) toda mudança qualitativa de um corpo qualquer (por exemplo, uma semente que se toma árvore, um objeto branco que amarelece, um animal que adoece, etc.); 2) toda mudança quantitativa de um corpo qualquer (por exemplo, um corpo que aumente de volume ou diminua, um corpo que se divida em outros menores, etc,); 3) toda mudança de lugar ou locomoção de um corpo qualquer (por exemplo, a trajetória de uma flecha, o deslocamento de um barco, a queda de uma pedra, o levitar de uma pluma, etc.); 4) toda geração e corrupção dos corpos, isto é, o nascimento e perecimento das coisas e dos homens. Movimento, portanto significa para um grego toda e qualquer alteração de uma realidade, seja ela qual for. A teoria aristotélica das quatro causas, tal como foi recolhida e conservada pelos pensadores medievais, é uma das explicações encontradas pelo filósofo para dar conta do problema do movimento. Haveria, então, uma causa material (a matéria de que um corpo é constituído, como, por exemplo, a madeira, que seria a causa material da mesa), a causa formal (a forma que a matéria possui para constituir um corpo determinado, como, por exemplo, a forma da mesa que seria a causa formal da madeira), a causa motriz ou eficiente (a ação ou operação que faz com que uma matéria passe a ter uma determinada forma, como, por exemplo, quando o marceneiro fabrica a mesa) e, por último, a causa final (o motivo ou a razão pela qual uma determinada matéria passou a ter uma determinada forma, como, por exemplo, a mesa feita para servir como altar em um templo). Assim, as diferentes relações entre as quatro causas explicam tudo que existe, o modo como existe e se altera, e o fim ou motivo para o qual existe. Um aspecto fundamental dessa teoria da causalidade consiste no fato de que as quatro causas não possuem o mesmo valor, isto é, são concebidas como hierarquizadas indo da causa mais inferior à causa superior. Nessa hierarquia, a causa menos valiosa ou menos importante é a causa eficiente (a operação de fazer a causa material receber a causa formal, ou seja, o fabricar natural ou humano) e a causa mais valiosa ou mais importante é a causa final (o motivo ou finalidade da existência de alguma coisa). À primeira vista, essa teoria é uma pura concepção metafísica que serve para explicar de modo coerente e objetivo os fenômenos naturais (física) e os fenômenos humanos (ética, política e técnica). Nada parece indicar a menor relação entre a explicação causal do universo e a realidade social grega. Sabemos, porém, que a sociedade grega é escravagista e que a sociedade medieval se baseia na servidão, isto é, são sociedades que distinguem radicalmente os homens em superiores – os homens livres, que são cidadãos, na Grécia, e senhores feudais, na Europa medieval – e inferiores – os escravos, na Grécia, e os servos da gleba, na Idade Média. Mas, o que teria a concepção da causalidade a ver com tal divisão social? Muita coisa.  Se tomarmos o cidadão ou o senhor e indagarmos a qual das causas ele corresponde, veremos que corresponde à causa final, isto é, o fim ou motivo pelo qual alguma coisa existe é o usuário dessa coisa, aquele que ordenou sua fabricação (por isso, na teologia cristã, Deus é considerado a causa final do universo, que existe “para Sua maior glória e honra”). Em outras palavras, a causa final está vinculada à idéia de uso e este depende da vontade de quem ordena a produção de alguma coisa. Se, por outro lado, indagarmos a que causa corresponde o escravo ou o servo, veremos que corresponde à causa motriz ou eficiente, isto é, ao trabalho graças ao qual uma certa matéria receberá uma certa forma para servir ao uso ou ao desejo do senhor. Compreende-se, então, por que a metafísica das quatro causas considera a causa final superior à eficiente, que se encontra inteiramente subordinada à primeira. Não só no plano da Natureza e do sobrenatural, mas também no plano humano ou social o trabalho aparece como elemento secundário ou inferior, a fabricação sendo menos importante do que seu fim. A causa eficiente é um simples meio ou instrumento. Temos, portanto, uma teoria geral para a explicação da realidade e de suas transformações que, na verdade, é a transposição involuntária para o plano das idéias de relações sociais muito determinadas. Quando o teórico elabora sua teoria, evidentemente não pensa estar realizando essa transposição, mas julga estar produzindo idéias verdadeiras que nada devem à existência histórica e social do pensador. Até pelo contrário, o pensador julga que com essas idéias poderá explicar a própria sociedade em que vive. Um dos traços fundamentais da ideologia consiste, justamente, em tomar as idéias como independentes da realidade histórica e social, de modo a fazer com que tais idéias expliquem aquela realidade, quando na verdade é essa realidade que torna compreensíveis as idéias elaboradas. Prossigamos com nosso exemplo. Vejamos agora o que sucede com a teoria da causalidade no mundo moderno, a partir da física elaborada nos séculos XVII e XVIII. Com os trabalhos de Galileu, Francis Bacon e Descartes (entre outros), o pensamento moderno reduziu as quatro causas apenas a duas: a eficiente e a final, passando a dar à palavra “causa” o sentido que hoje lhe damos, isto é, de operação ou ação. A física moderna considera que a Natureza age de modo inteiramente mecânico, isto é, como um sistema necessário de relações de causa e efeito, tomando a causa sempre e exclusivamente no sentido de causa motriz ou eficiente. Ou seja, não há causas finais na Natureza. No plano da metafísica, porém, além da causa eficiente, é conservada a causa final, pois esta se refere a toda ação voluntária e livre, ou seja, refere-se à ação de Deus e â dos homens. A vontade (divina e humana) é livre e age tendo em vista fins ou objetivos a serem alcançados. Assim, a Natureza se distingue de Deus e dos homens (enquanto espíritos); é que ela obedece a leis necessárias e impessoais – a causa eficiente define o reino da Natureza como reino da necessidade racional –, enquanto Deus e os homens agem por vontade livre – Deus e os homens constituem o reino da finalidade e da liberdade. 

Para  ler o texto na íntegra acesse o link abaixo:

http://www.mrherondomingues.seed.pr.gov.br/redeescola/escolas/27/1470/14/arquivos/File/Documentacao/Oqueideologia.pdf

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

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Uma abordagem teórica: “Apologia de Sócrates” de Platão.

Uma abordagem teórica: “Apologia de Sócrates” de Platão.




Por: DONALDO DE ASSIS BORGES
A análise do texto passa pela superação de algumas questões que não ficam evidentes na obra. Seria essa obra a descrição fiel das palavras de Sócrates perante o Tribunal de Atenas? Seria essa uma forma de Platão dizer o que pensava sobre as injustiças sofridas por Sócrates, julgado não pela sua filosofia mas por questões evidentemente políticas? Seria a obra uma forma de demonstrar as pressões da política sobre a filosofia que para ele era uma forma superior de saber e que deveria dirigir os rumos da política? 


Evidentemente, não temos as respostas para essas perguntas. Quanto à posição pessoal do autor, porém depreende-se a sua concordância com as argumentações expressas nas palavras de Sócrates. 

Neste sentido, a análise sobrecairá sobre as argumentações, as ideias, os conceitos, os problemas levantados, contra-argumentos, refutações etc, procurando compreendê-los a partir das regras de abordagem teórica aprendidas na disciplina. 

A obra compõe-se de um preâmbulo e três partes. Na primeira, está “a defesa” de Sócrates onde consta o diálogo com Meleto, na segunda, “a pena” e “do esperado da pena”, e na terceira parte, “após a condenação” e “aos que votaram contra”, onde Sócrates faz uma reflexão sobre as suas convicções de vida e morte, e a relação com os deuses. 

A obra está estruturada sob a forma de diálogo. O diálogo filosófico privilegia a função destinatário. Porém, o seu desenrolar não ocorre de forma pacífica, mesmo porque o contexto não permite a amistosidade. O autor não se apoia no interlocutor com liberdade. Trata-se de uma acusação a ser refutada. Eis a acusação, datada de janeiro de 399 a. C.:

A seguinte acusação escreve e jura Meleto, filho Meleto, do povoado de Piteo, contra Sócrates, filho de Sofronisco, do povoado de Alópece. Sócrates é culpado de não aceitar os deuses que são reconhecidos pelo Estado, de introduzir novos cultos, e, também, é culpado de corromper a juventude. Pena: a morte” (Platão. 1999, p.59).
Nesta época, a cidade de Atenas não podia mover ações, mas um cidadão podia, assumindo, porém, total responsabilidade, se a acusação não fosse considerada pelo júri. Meleto não estava só, a ele haviam se juntado Ânito e Lícon, com os mesmos direitos à palavra no tribunal. Entendiam os acusadores que Sócrates era
réu de haver-se ocupado de assuntos que não eram de sua alçada, investigando o que existe embaixo da terra e no céu, procurando transformar a mentira em verdade e ensinando-as às pessoas” (Platão. 1999. p. 69).
Por isso, Sócrates logicamente se concentra em uma argumentação contrária a seus adversários, que em alguns momentos se torna pessoal. Quando o filósofo responde a seus adversários por refutação, tentando invalidar as teses opostas à sua, fala-se em função polêmica. A intertextualidade se escora na função dialógica e polêmica. Nesse caso a função dialógica é introspectiva, ou seja, ela vem à tona nos momentos em que Sócrates retrocede ao passado para reforçar a sua argumentação de defesa na tentativa de esvaziar a acusação. Neste caso, a função polêmica não se dá entre filósofos, mas entre Sócrates e seus acusadores, e sobre isso não há conciliação. 


O processo argumentativo tem como emissor/autor a figura de Sócrates. É ele quem defende e elabora a argumentação expõe de forma clara ao receptor/destinatário/leitor. Para isso, é necessário que ele conheça o receptor. No contexto da defesa os receptores são os juízes do tribunal de Atenas (auditório particular). Porém, o texto de Platão, aqui considerado como emissor/autor, o receptor /destinatário /leitor é o sujeito universal (auditório universal). Isto porque, o processo de validação na enunciação universal se dá na medida em que a presença do autor é apagada, e isto constitui por si uma forma de validação. Não são percebidos os pontos de vista pessoais do autor, estes não são identificáveis se são de Sócrates ou do próprio autor. Os pontos de vista são reduzidos a idéia central de Sócrates que não havia cometido nenhum ilícito e que estava sendo acusado injustamente. Essa a tese central: o desenvolvimento puro e simples de uma filosofia sem qualquer consequência danosa para a sociedade. 

Diante dos elementos que compõem uma argumentação, podemos destacar que o problema, ou seja, a questão a qual o filósofo busca resposta, é a acusação de não aceitar os deuses que são reconhecidos pelo Estado, de introduzir novos cultos, e, também, de corromper a juventude ateniense. A tese defendida pelo filósofo, em resposta às acusações, é a de que nada mais fazia do que filosofar. A sua teoria era a de que não havia quem pudesse dizer-se prejudicado com os seus ensinamentos. Os seus argumentos, recheados de ironia, faziam corar os acusadores, que, pela força dos argumentos ficavam sem palavras para prosseguir na acusação. Por isso, a contra-argumentação, ou seja, as razões contrárias à tese defendida, certamente não prevaleceriam num julgamento justo. As refutações do filósofo não são feitas propriamente segundo um diálogo polêmico se considerarmos que ele mesmo coloca a questão e supõe as eventuais respostas, e sobre elas argumenta minimizando a importância dos eventuais argumentos contrários com intuito de convencer os juízes do tribunal. 

No momento em que interpela Meleto, Sócrates retira dele conclusões que por certo o absolveriam. Isso o leva a acusar Meleto de ser ele o réu porque estava abordando assuntos sérios e tão inescrupulosamente o levara ao tribunal. 

A conclusão do filósofo foi a de que ele não havia cometido nenhum crime diferentemente dos juízes que julgaram precedente a ação para condenar Sócrates à pena de morte. 

Porém, Sócrates é fiel às suas convicções e não admite renunciar ao que ensinou. Admite ser melhor morrer e ficar livre de fadigas. No entanto, faz um pedido. Que no futuro, seus filhos sejam castigados da mesma forma que ele se estivem cuidando mais da riqueza ou de outra coisa que da virtude; se estiverem supondo ter um valor que não tenham, se suporem méritos que não os tenham. Dai que, se assim agirem, terá ele recebido deles a justiça, e também os seus filhos. 

Sócrates pautou sua vida por uma ética post mortem, ou seja, na crença de que a conduta virtuosa e verdadeira durante a sua vida, lhe daria a paz necessária e a credibilidade moral para ser recepcionado pelos deuses. 

Em razão disso, e também do julgamento injusto, previne que era chegada a hora de partirem, ele para a morte, o outros para a vida. E sobre quem seguiria melhor destino, se ele, ou os outros, era um segredo para todos, exceto para os deuses. 



REFERÊNCIAS

PLATÃO. Apologia de Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

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[1] Donaldo de Assis Borges. Advogado e Professor Universitário em Franca/SP.


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